segunda-feira, 26 de julho de 2010

/


Lá estava eu, perdida em meus devaneios cuja a trilha sonora era o bater das ondas nas rochas. De olhos fechados, com a cabeça apoiada nos joelhos e a mão deslizando na areia fina e umida pelo mau tempo, eu chorava.
Eu senti uma mão deslizar sobre meu ombro, abri meus olhos e mais algumas lágrimas percorreram minha face. A Garota ruiva sentou-se ao meu lado e encarou o mar.
- Não era quem eu esperava que fosse...
- Desculpe a decepção.
- Não é isso.. é que..
- Esperava que fosse ele, eu sei.
- É.
- Mais ele não vem... você sabe disso.
Abaixei minha cabeça e respirei fundo, Amanda tinha razão. Ele não vem, a essa hora estaria embarcando num avião. Destino? O outro lado do mundo. Já não me bastasse ele ter que me deixar, ainda tinha que ser a esta distancia? Ambos sabíamos o quão doloroso ia ser, mais era uma oportunidade incrível de aprendizado profissional para ele. Mas ainda sim, doloroso para mim.
- Está tudo be... não, não está.
Ela passou os braços ao meu redor e me abraçou. Me acolhei no seu colo de amiga. Enquanto eu observava o ir e vir das ondas.
- Posso participar deste abraço também?
Por alguns segundos achei que fosse uma miragem, ou que eu estava ficando completamente louca. Escutando vozes talvez. Era a única explicação plausível para o que eu acabara de ouvir. Me virei lentamente como se um felino fosse me atacar fatalmente. E então eu pude ver, aqueles olhos verdes brilhantes olhando pra mim, aquele cabelo loiro espetado feitos espinhos. E aquele sorriso? Angelical feito de uma criança de 5 anos quando lhe é dado um doce. Ele estava bem ali.. bem na minha frente.
- O q..voce...aqui? - Balbuciei ficando de pé.
- eu não consegui, eu não consegui ir sem me despedir. Sei que combinamos de não nos ver hoje, que seria mais fácil...
- Mais não é.
- É, nem um pouco fácil.
Ele veio até mim, me abraçou. Senti o calor do seu corpo contra o meu, podia sentir seu coração bater acelerado. Sua respiração descompensada. Acariciou meu rosto com a ponta dos dedos.
- Eu não podia ir sem deixar claro o quão importante você é pra mim, o quanto eu te amo. Eu preciso que você saiba...
- Eu sei!
- Você é a única na minha vida.
- Eu também te amo.
Ele me beijou.Quando tocou em meu lábios senti um arrepio cobrir todo meu corpo e eu sabia, ele era meu. Um beijo demorado que começou desesperado foi terminando apaixonado, romântico. Eu quase podia jurar que era um final de comédia romântica que toda garota gostava, era quase o meu final feliz. Ele terminou o beijo com um selinho emocionado, salgado, banhado por nossas lágrimas.
Tirou do bolso um pequeno embrulho e colocou nas minhas mãos.
- Guarde-o pra mim.
Abri o pacote devagar e pude notar o velho relógio de bolso feito de ouro puro.
- O relógio do seu avó... - eu falei confusa.
- Sim...
- Não entendi... você ama esse relógio.
- Exatamente. - Ele sacudiu a cabeça e sorriu. - Quero que o guarde pra mim.
- Assim terá que voltar pra buscar.
- Você entendeu! A pessoa que eu mais amo está com as duas coisas que eu aprecio na minha vida. O Relógio...
- Duas?
- E o meu coração.

Não foi preciso dizer mais nada, não seria fácil a saudade ou a distancia, mais eu o amava e isso era reciproco. Então ia dar certo. Faríamos do impossível para dar certo.. seriam só alguns meses, doze apenas. Passam rápidos, eu ri com aquele pensamento. Só doze meses, um ano; parecia menos assim. E com isso, ele se despediu e foi embora. Deixando para trás, o relógio, o coração e eu.;



// A Canceriana